Nos últimos anos, alguns hospitais passaram a substituir contratos de Pessoa Jurídica (PJ) por Sociedade em Conta de Participação (SCP) para a contratação de médicos.
Apesar de apresentarem isso como uma simples mudança administrativa, trata-se de um modelo que pode gerar riscos fiscais, trabalhistas e até criminais.

A seguir, explico de forma clara, direta e embasada por que a SCP não é permitida para prestação de serviços médicos e por que esse tipo de contrato deve ser recusado imediatamente.

O que é a SCP e por que ela NÃO se aplica a serviços médicos

A SCP é regulada pelos artigos 991 a 996 do Código Civil:
👉 Lei completa: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406.htm#art991

O próprio Código Civil define a SCP como uma sociedade oculta, usada para investimentos, e não para prestação de serviços.
Ou seja: ela é válida quando um investidor entra “oculto” em um negócio com fins comerciais, nunca em atividades técnicas, profissionais ou reguladas — como a medicina.

Por que é ilegal usar SCP para plantões e atendimentos?

Porque configura desvio de finalidade societária. Isso pode gerar:

  • responsabilização civil
  • responsabilização tributária
  • responsabilização criminal

Riscos reais para o médico que aceita SCP

1. Risco de crime fiscal

Como a SCP não recolhe tributos adequados para prestação de serviços, o médico pode ser enquadrado em:

A Receita Federal já considera desvio de finalidade societária como indício de fraude tributária.


2. Responsabilidade criminal do médico

Ao aceitar participar de SCP para serviços médicos, o profissional pode ser investigado por:

  • Associação criminosa (art. 288 do Código Penal), se houver participação coletiva
  • Fraude fiscal (Lei 8.137/90)
  • Coautoria pelo uso irregular de pessoa jurídica

Mesmo sem intenção, o médico é co-responsável.


3. Dificuldade para regularizar depois

Uma vez envolvido em SCP irregular, o médico pode ter de:

  • retificar anos de declarações
  • recolher tributos retroativos
  • pagar multa + juros
  • contratar advogado tributário
  • participar de processos administrativos e judiciais

Isso se aplica também ao CPF, não apenas à PJ.


4. Desvalorização da profissão

Quando um hospital força contratos inadequados, abre espaço para:

  • redução do valor de plantões
  • perda de proteção jurídica
  • fragilização da classe médica
  • precarização do trabalho

A SCP prejudica toda a categoria.


A armadilha financeira da SCP para médicos

Hospitais alegam redução de custos, mas na prática:

SCP paga mais imposto do que PJ

A PJ no Simples Nacional paga entre 6% e 15,5%.

Já a SCP:

  • não recolhe INSS corretamente
  • não recolhe IR adequado
  • não permite dedução de despesas
  • cria responsabilidade tributária direta para o médico

No fim, sai mais caro para o profissional.


Impacto na qualidade do atendimento

Insegurança jurídica + remuneração menor =
profissional pressionado, ambiente instável e risco de queda na qualidade assistencial.

O CFM reforça que condições de trabalho inadequadas afetam a qualidade da medicina:
👉 Código de Ética Médica: https://portal.cfm.org.br/eticamedica/


A união da classe médica é fundamental

A comunidade médica precisa rejeitar modelos irregulares e exigir:

  • contratos formais
  • enquadramento jurídico correto
  • remuneração justa
  • respeito às normas do CFM
  • segurança profissional e tributária

Perguntas frequentes sobre SCP para médicos

1. O que é uma SCP?

Uma sociedade usada para investimentos, onde o sócio participante não aparece publicamente. Não serve para prestação de serviços.

2. Posso usar SCP para plantões ou atendimentos?

Não.
Isso viola o Código Civil e pode gerar crime fiscal.

3. Quais são os riscos?

  • crimes fiscais
  • responsabilidade solidária
  • investigação criminal
  • precarização profissional

4. SCP reduz impostos?

Não reduz.
Na prática, aumenta riscos e custos.

O modelo PJ é o único juridicamente adequado para atuação médica fora de vínculo CLT.