Cada vez mais comum, a Síndrome de Burnout é um esgotamento físico e emocional causado por condições de trabalho desgastantes. A síndrome exige atenção, diagnóstico profissional e ações de prevenção por parte de empresas e trabalhadores.

A Síndrome de Burnout, também conhecida como esgotamento profissional, tem se tornado uma das principais causas de adoecimento mental e afastamento do trabalho no Brasil. Reconhecida oficialmente pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como um fenômeno ocupacional, a síndrome reflete o impacto da sobrecarga emocional e física, especialmente em ambientes altamente exigentes como a rotina médica, particularmente quando falamos de plantonistas.

Para responder às perguntas deste artigo, consultamos a nossa líder no Setor de Gestão de Pessoas, a Psicóloga e Psicanalista Juliana Ribeiro. Inclusive, a Juliana já abordou assuntos como a saúde mental e prevenção ao suicídio em nosso Instagram, acesse aqui.

O que é a Síndrome de Burnout?

Burnout é uma condição caracterizada por um estado de exaustão extrema, despersonalização e redução da realização pessoal, decorrente de um ambiente de trabalho estressante, desgastante e com alta demanda emocional. Diferentemente de outras doenças mentais, o burnout está diretamente relacionado ao contexto profissional, atingindo com maior frequência indivíduos que atuam em áreas de alta responsabilidade ou pressão constante, como saúde, educação, tecnologia e finanças.

Nossa psicóloga afirma que “quando o indivíduo é submetido a cobranças excessivas — sejam elas externas ou oriundas de autocobrança — e força continuamente seus próprios limites para aumentar sua produtividade, pode então desenvolver uma hiper produtividade. Esta, por sua vez, caracteriza-se como uma resposta psíquica ao medo do fracasso, à frustração, ao receio de decepcionar terceiros ou ainda como consequência de motivações competitivas.

No entanto, a médio e longo prazo, essa dinâmica tende a desencadear processos de adoecimento psíquico. Quando o sujeito se encontra em estado avançado de exaustão, a autocorreção e a cobrança exacerbada deixam de ser eficazes na manutenção da produtividade, passando a gerar manifestações clínicas, como quadros de estresse crônico, ansiedade, síndrome de burnout e outros transtornos mentais relacionados. 

Na prática, o estímulo contínuo à hiper produtividade e à conexão permanente estabelece um ciclo patológico, que conduz progressivamente o indivíduo ao colapso físico e psíquico”.

Segundo o Ministério da Saúde, os principais sintomas incluem cansaço excessivo (físico e mental), insônia, dificuldade de concentração, irritabilidade, dores musculares e isolamento social. Além disso, há uma forte sensação de ineficácia e distanciamento emocional do trabalho. Uma crise de Burnout pode ser desencadeada por uma situação específica e, se não tratada, pode evoluir para quadros mais graves, como depressão ou transtornos de ansiedade. Procurar ajuda especializada é essencial para o diagnóstico e o início do tratamento.

Síndrome de Burnout, Ataque de Pânico, Transtorno de Pânico: quais as diferenças?

É importante saber diferenciar as três condições devido aos sintomas parecidos. O Ataque de pânico e Transtorno de Pânico são condições associadas à ansiedade, mas não são a mesma coisa e diferem significativamente da síndrome de Burnout. 

O ataque de pânico é uma crise aguda e repentina de medo intenso, geralmente acompanhada por sintomas físicos como taquicardia, falta de ar, sudorese, tremores e sensação de perda de controle ou morte iminente. Ele pode ocorrer isoladamente, sem necessariamente indicar um transtorno. 

Já o transtorno de pânico é caracterizado pela recorrência dos ataques de pânico e por um medo persistente de que eles voltem a acontecer, levando a comportamentos de evitação e prejuízos à vida cotidiana. Por outro lado, o Burnout é um estado de esgotamento físico e emocional relacionado exclusivamente ao contexto de trabalho, desenvolvido de forma gradual, e envolve sintomas como cansaço extremo, distanciamento emocional e perda de sentido na atividade profissional.

Enquanto o Ataque e o Transtorno de Pânico se originam de fatores mais amplos ligados à ansiedade, o Burnout está vinculado diretamente à sobrecarga ocupacional e à falta de equilíbrio entre esforço e recuperação no ambiente profissional. Confira nosso post no Instagram sobre o assunto aqui.

Evolução do problema no Brasil

Dados recentes evidenciam a gravidade do cenário, principalmente entre médicos.

De acordo com reportagem da Folha de S.Paulo, as ações judiciais por burnout na Justiça do Trabalho cresceram 145% em 2025 em relação ao ano anterior. No cenário médico, as causas vão desde plantões prolongados, falta de estrutura hospitalar, pressão por resultados rápidos até a sobrecarga emocional de lidar diariamente com sofrimento humano e perda de pacientes.

Falamos com Juliana sobre o assunto e ela explica que a síndrome é diagnosticada com maior frequência em trabalhadores classificados como adultos jovens, faixa etária que, em termos populacionais, concentra a maior parte da força de trabalho. “Em relação à grupos sociais, a síndrome de burnout não impacta igualmente, ela apresenta maior vulnerabilidade em determinadas populações, como: indivíduos jovens que vivem em regiões periféricas, pessoas negras e mulheres, púbico mais suscetíveis devido a fatores como a informalidade no trabalho, acesso restrito a serviços de saúde e desigualdades estruturais no ambiente profissional.”

Além disso, um artigo divulgado pelo Educa+Brasil aponta que um estudo do Censo de Demografia Médica do Conselho Federal de Medicina (CFM) revelou um dado preocupante: mais de 30% dos médicos brasileiros estão sofrendo com excesso de trabalho. A situação é ainda mais comum entre os profissionais mais jovens e aqueles que atuam na rede pública, onde a pressão por resultados e a escassez de recursos agravam o quadro.

Desde os primeiros anos de carreira, especialmente na residência médica, os profissionais enfrentam múltiplas demandas e longas horas de plantão – um ambiente propício ao desenvolvimento da Síndrome de Burnout.

Segundo o levantamento do CFM:

  • 31,7% dos médicos declararam estar sobrecarregados;
  • 54,6% consideraram a carga de trabalho adequada;
  • E 13,7% disseram que poderiam assumir uma carga ainda maior.

Esses números acendem um alerta vermelho para o setor. A sobrecarga não é apenas uma questão de produtividade: ela traz riscos concretos à saúde física e mental dos médicos, com o Burnout sendo uma das principais consequências.

O impacto é agravado pela pandemia da COVID-19, que elevou as pressões sobre profissionais de diversas áreas, em especial os da saúde, que passaram a conviver com o medo constante de contaminação, aumento da demanda e escassez de recursos.

Duas produções audiovisuais ajudam a ilustrar o impacto da sobrecarga emocional e estrutural na rotina médica: 

“Sob Pressão” (TV Globo e Globoplay): Série de ficção que retrata o dia a dia de uma equipe médica em um hospital público do Rio de Janeiro. A trama expõe de forma crua os dilemas éticos, a falta de recursos e o esgotamento físico e emocional vivido pelos profissionais da saúde.

“The Pitt” (Max): Série médica americana que acompanha o dia a dia de um pronto-socorro em um hospital fictício de Pittsburgh, explorando os desafios enfrentados pelos profissionais de saúde, incluindo a escassez de pessoal, subfinanciamento e recursos insuficientes. Cada episódio retrata aproximadamente uma hora de um turno de 15 horas. 

Vale lembrar que “The Pitt” foi uma das recentes indicações na nossa newsletter, a SMR News. Inscreva-se gratuitamente e fique por dentro dessa e outras indicações, além de notícias e dicas práticas para organizar sua vida profissional e pessoal 🙂 

Diagnóstico e tratamento

Segundo Juliana Ribeiro, o diagnóstico da síndrome deve ser feito por um profissional de saúde mental, como psiquiatra ou psicólogo, com base em critérios clínicos. É importante diferenciar o burnout de outras condições, como depressão e transtornos de ansiedade, apesar de os sintomas muitas vezes se sobreporem. “Alguns dos sintomas psicológicos são:

Falta de atenção, alterações de memória, falta de concentração, sentimento de alienação, solidão, insuficiência, impaciência, desânimo e desconfiança, irritabilidade, agressividade, perda de iniciativa, incapacidade para relaxar, aumento de consumo de substâncias, perda de interesse pelo trabalho. Sintomas físicos: sensação de fadiga constante e progressiva, dores de cabeça frequente, distúrbios do sono (insônia ou hipersonia), dores musculares e gastrointestinais, imunodeficiência, transtornos cardiovasculares, distúrbios do sistema respiratório, disfunções sexuais, alterações musculares nas mulheres.

É importante destacar que o acompanhamento psicológico para indivíduos que sofrem de burnout é essencial para a recuperação e para o restabelecimento do bem-estar mental e físico. O papel do profissional psicólogo é utilizar-se da sua técnica de trabalho para identificar e tratar as causas subjacentes da síndrome, proporcionando um espaço seguro para que os pacientes possam explorar e refletir sobre suas emoções, pensamentos, comportamentos e escolhas.”

O tratamento envolve uma abordagem multidisciplinar, incluindo:

  • Afastamento temporário do ambiente de trabalho;
  • Psicoterapia, especialmente com técnicas como Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC);
  • Uso de medicação, quando necessário;
  • Práticas de autocuidado, como atividades físicas, lazer e sono adequado;
  • Mudanças no ambiente e nas condições de trabalho.

A prevenção é essencial e deve começar com a identificação precoce de sinais de esgotamento, bem como com o fortalecimento de políticas de saúde mental nas empresas.

Como prevenir?

A prevenção do burnout deve ser compartilhada entre empregadores e empregados. Do lado das empresas, é fundamental:

  • Promover uma cultura organizacional saudável;
  • Respeitar a carga horária de trabalho;
  • Estimular pausas e momentos de descanso;
  • Oferecer apoio psicológico;
  • Evitar a cultura da hiperprodutividade e da disponibilidade constante, não existe descanso de verdade se ainda estamos conectados ao trabalho o tempo todo. Assim, é essencial delimitar horários de trabalho, evitar mensagens e notificações fora do expediente e acordar com regras pessoais (ex: não checar e-mails antes de começar o dia).

Para os profissionais, é importante:

  • Reconhecer os próprios limites;
  • Buscar ajuda especializada ao primeiro sinal de esgotamento;
  • Estabelecer limites claros entre vida pessoal e profissional;
  • Praticar atividades que proporcionem bem-estar.

Burnout tem lei?

O reconhecimento do burnout como doença relacionada ao trabalho implica na possibilidade de o trabalhador buscar judicialmente reparação por danos morais, estabilidade e reintegração. A Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) e a jurisprudência trabalhista já reconhecem, em alguns casos, o nexo causal entre as atividades exercidas e o surgimento da síndrome.

Juliana explica que o aumento das ações judiciais pode impulsionar as organizações a priorizarem a promoção da saúde mental e o bem-estar psicossocial dos trabalhadores, resultando em mudanças estruturais na cultura organizacional e nos modelos de gestão do trabalho.

O que uma pessoa pode fazer se não consegue se afastar do trabalho, mas já apresenta sintomas de esgotamento?

Nossa psicóloga indica iniciar acompanhamento psicoterapêutico com o objetivo de buscar acolhimento e uma escuta qualificada, visando à elaboração das angústias relacionadas à rotina, bem como favorecer a reflexão acerca da relação que estabelece com o trabalho. 

O processo terapêutico também buscará desenvolver estratégias de enfrentamento (atividades físicas, de lazer, entre outros) com o foco na melhora da capacidade adaptativa diante das demandas e dificuldades do ambiente laboral.

Conclusão

A Síndrome de Burnout é um alerta urgente sobre os limites do corpo e da mente frente às exigências do mundo moderno. Mais do que uma condição individual, ela é um reflexo coletivo de um modelo de trabalho que precisa ser repensado. Para o médico, que já convive diariamente com jornadas longas, pressão emocional e responsabilidade constante, buscar equilíbrio não é simples. Mas é possível.

Na SMR, sabemos que boa parte do estresse vem de tarefas administrativas que consomem tempo, energia e atenção. Por isso, nosso propósito é justamente facilitar a vida de quem cuida.

E como fazemos isso?
– Assumimos a gestão contábil, fiscal e burocrática para que o médico possa focar no que realmente importa: cuidar de pessoas e cuidar de si.
– Oferecemos suporte para ajudar a organizar toda a parte burocrática da sua vida financeira e profissional.
– Criamos conteúdos práticos, como esse, para ajudar nossos clientes a identificar riscos e agir antes que o problema se agrave.

Cuidar da saúde mental no ambiente profissional não é apenas uma questão de bem-estar, é uma necessidade ética, legal e humana.